29/05/08

Toc, toc. Quem é?, perguntou ela, erguendo as pétalas. Sou a mão que quer levar-te a ver a luz do dia. Não acredito em ti. A última mão que vi por perto prometeu o mesmo. Pediu que olhasse a porta com a curiosidade de quem quer saber o que fica do outro lado e, clic, fez clic e deixou-me para trás, explicou a flor, amuada. Confia em mim, abre a porta e verás que falo verdade. Não gostavas de ver as cores do arco-íris? Já as vi pintadas no vaso onde vivia antes de me mudarem para esta lata velha e me abandonarem aqui, acrescentou ela. Mas não é a mesma coisa, as cores do arco-íris são assim como um campo de muitas flores bonitas como tu. Como sabes que sou bonita?, questionou a flor. (Silêncio). Espreitei-te pela janela e achei-te logo bonita. Só abro se me deixares ficar num campo de flores assim bonitas como eu e as cores do arco-íris. Prometo, flor. Então, está bem. Vou passar a chave por debaixo da porta, não consigo alcançar a fechadura. Mas antes, promete que não me vais usar para aquele jogo cruel do mal me quer bem me quer muito pouco nada. (A mão suspira) Mas tu passas-me a chave, ou não?

Foto: Luís Pulgar

28/05/08

Dou comigo a pensar que isto podia ser um palco e a caixa de comentários a plateia. Estariam alguns de vocês incomodados com o facto de vos ter calhado uma coxia e estaria eu igualmente incomodada por ter meia dúzia de olhos desconhecidos postos em mim. Ia muito provavelmente ter uma branca como a que tenho neste momento, mas apressava-me a disfarçar. Disfarço até bem. Até começar a corar. Vá, façam buuuu, buuuu, atirem-me tomates, digam blasfémias. Parece que estou a pedir atenção, não é? E pronto, desce o pano, acendem-se as luzes, podem ir saindo. Ordeiramente, por favor.

26/05/08

Amanhã, logo pela fresca, vou colar um cartaz destes na porta do meu prédio. E vou também oferecer um ramo de salsa a cada um dos meus vizinhos. Só estou na dúvida se hei-de envolver o dito numa fitinha cor-de-rosa às bolinhas amarelas ou numa fitinha amarela às bolinhas cor-de-rosa. Bom, a quem faltar ideias sobre a forma de comemorar o Dia Europeu do Vizinho, deixo algumas dicas úteis. Dez dicas, para ser mais precisa. Que, obviamente, não são dicas minhas, encontrei-as aqui. Eu lá tinha imaginação para aquilo tudo...

21/05/08

Não postas nada? Tenho nada a dizer. Escreve um post sobre nada! Olha, boa ideia. Era uma vez nada. Nada vivia na angustia de que nada se dissesse sobre ele. Temia ser mais um nada no meio de tantos outros nada. Atormentado por tal pensamento, nada decidiu fazer algo que o tornasse diferente dos outros nada. Mas nada, nada lhe ocorria. Certo dia, nada desabafou os seus temores com nada, que, admitindo nunca ter sido assolado por tal desespero, ficou um nada preocupado. Juntos, ambos os nada prometeram apoio mútuo. Diziam eles que nada com nada nalguma coisa havia de resultar. Mesmo assim, nada. Mesmo escrevendo meia dúzia de linhas sobre nada, nada se aproveita. E escrever um post sobre nada, de nada serviu.

15/05/08

Até o sol voltar, faço greve de palavras.

14/05/08

Telefone: Trluruu, trluruuu…
Eu: Estou?
Ela: Olha, sobre o relatório, esqueci-me de te dizer…
Eu: (tentando interromper) Desculpe…
Ela: … que tens de acrescentar…
Eu: (tentando interromper) Hmm, desculpe…
Ela: Dá-me um segundo. Sim, estou a falar com ela. (grita para alguém que está por perto) Hã? Ah, está bem.
Ela: Desculpa, estava a dizer que…
Eu: Posso interromper eu agora?
Ela: (silêncio) … Quem fala?
Eu: Pois, é isso mesmo. Queria dizer-lhe que é engano.
Ela: (ri-se) Ah! (ri-se outra vez). Desculpe, não tinha percebido…
Eu: Ainda tentei interromper…
Ela: Pois, mas eu quando ligo à corrente não me calo.
Eu: É verdade.
Ela: Desculpe. Bom dia.
Eu: Bom dia.

Dois minutos depois...

Telefone: Trlurruuu, trluruuu
Eu: (reparando que se trata do mesmo número) Sim?
Ela: Já percebi, enganei-me outra vez. O seu número é o xxxxxx?
Eu: Não...
Ela: As linhas devem estar trocadas.
Eu: É capaz disso. Às vezes acontece.
Ela: Vou desligar e esperar um bocadinho até voltar a ligar.
Eu: É melhor.
Ela: Desculpe. Bom dia!
Eu: Bom dia.

Mais uns minutos depois…

Telefone: Trlurruuu, trluruuu
Eu: (reparando que se trata do mesmo número) Ainda não foi desta…
Ela: … Eu nem acredito… (ri-se) Vou desistir. Desculpe, outra vez. Bom dia.
Eu: Bom dia.

Outros quantos minutos depois…

Telefone: Trluruuu, trluruuu
Eu: (já sem reparar no número no visor) Isto está mesmo complicado…
Ela: Hum?
Eu: Quem fala?
Ela: Sou eu, pá!
Eu: Ah, desculpa.
Ela: (ri-se) Mas afinal o que é que está complicado?
Eu: Olha, esquece. Conta-me.

13/05/08

Entre um pensamento, uma manobra perigosa, uma buzinadela ou uma obscenidade dirigida ao condutor da frente, do lado ou de trás, lá acontece. A mão solta o volante, involuntariamente ou não, e o dedinho infractor faz o trabalho sujo. Eis (mais) um comportamento típico na estrada. E multas para isto não há, mas devia.

09/05/08

Beijos. Beijos sonâmbulos, beijos devoradores, beijos demorados, beijos poéticos, beijos felinos, beijos estonteantes, beijos inquietos. Recuperar o fôlego. Beijos. Beijos atrevidos, beijos salgados, beijos com rasteira, beijos assimétricos, beijos sôfregos, beijos coloridos. Recuperar o fôlego. Beijos. Beijos curiosos, beijos amigáveis, beijos proibidos, beijos aos cachos, beijos sonoros, beijos ardentes, beijos aos saltinhos. Recuperar o fôlego. Beijos. Beijos controladores, beijos alados, beijos pacientes, beijos artísticos, beijos fingidos, beijos teóricos, beijos arrebatadores. Recuperar o fôlego. Beijos. Beijos todo-o-terreno, beijos indomáveis… Beijos. Beijinhos. Beijocas. Beijos em bicos de pés.
此前,为争抢业务,中国电信企业纷纷推出与2008年北京奥运会相关的技术服务。(资料图片) 5月7日,记者从接近中国电信高层人士获悉,电信重组方案或将于5月17日,也就是第二个世界电信日公布。 “已经基本确定了在本月中下旬公布,但仍然存在变数

Às vezes falo e parece que não me entendem. Frustrante, não é?

07/05/08

"Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso."

Eugénio de Andrade

E depois venham cá dizer-me que a beleza das palavras simples não é ainda mais bela...

06/05/08

Hoje sinto-me capaz de fazer concorrência a este bicho. No que toca à lentidão dos movimentos, claro. Jeito para estar pendurada nos galhos tenho pouco.

05/05/08

Aconteceu em plena sapataria, com o empregado especado a mirar-me os pés e os outros dois a moerem-me o juízo. Um comodamente sentado no meu ombro esquerdo, como sempre o exemplo do bom comportamento, o outro pendurado na orelha direita, a balançar de um lado para o outro, como sempre o bom exemplo do mau comportamento. No chão, três caixas semi-abertas, cada uma com um par de sandálias. Pedi o mesmo modelo em amarelo, laranja e violeta. A etiqueta marcava um preço escandaloso, tão escandaloso quanto as sandálias, que, garanto-vos, são escandalosamente giras. O que estava pendurado na orelha chamava-me a atenção para a cor, o outro para o preço. Tentei ignorá-los. "Acho que vai ser o amarelo", pensei. Mas era verdade que o preço continuava a inibir-me. E o empregado continuava a mirar-me os pés e a dizer as barbaridades que era preciso dizer só para me convencer. O que estava sentado no ombro direito, rodopiava a auréola no indicador ao mesmo tempo que me segredava “são excessivamente caras. Quando saíres da porta já te arrependeste”. O outro puxava-me o cabelo e repetia “leva as violeta, leva as violeta, ficam-te melhor e quando voltares já não vais encontrar o teu número.”. E o empregado a insistir “mas ficam-lhe tão bem, leve!”. Saí da sapataria sem sandálias e com os outros dois a provocarem-se. O da auréola cantou vitória, mas o outro sabe que o mais provável é voltar comigo ao local do pecado. Será que ainda encontro o meu número?