Toc, toc. Quem é?, perguntou ela, erguendo as pétalas. Sou a mão que quer levar-te a ver a luz do dia. Não acredito em ti. A última mão que vi por perto prometeu o mesmo. Pediu que olhasse a porta com a curiosidade de quem quer saber o que fica do outro lado e, clic, fez clic e deixou-me para trás, explicou a flor, amuada. Confia em mim, abre a porta e verás que falo verdade. Não gostavas de ver as cores do arco-íris? Já as vi pintadas no vaso onde vivia antes de me mudarem para esta lata velha e me abandonarem aqui, acrescentou ela. Mas não é a mesma coisa, as cores do arco-íris são assim como um campo de muitas flores bonitas como tu. Como sabes que sou bonita?, questionou a flor. (Silêncio). Espreitei-te pela janela e achei-te logo bonita. Só abro se me deixares ficar num campo de flores assim bonitas como eu e as cores do arco-íris. Prometo, flor. Então, está bem. Vou passar a chave por debaixo da porta, não consigo alcançar a fechadura. Mas antes, promete que não me vais usar para aquele jogo cruel do mal me quer bem me quer muito pouco nada. (A mão suspira) Mas tu passas-me a chave, ou não? Foto: Luís Pulgar




