06/10/09

Abro a sapateira e olho-as enfileiradas. Dormem a sono solto e quase sinto pena de despertá-las. Psst, acordem. As primeiras a abrir o olho são as pretas. Mexem-se e acabam por dar um toque nas castanhas, que acordam em sobressalto. As cinzentas esticam os atacadores como se estivessem a espreguiçar-se. Que foi?, perguntam estas últimas. Chegou a chuva, digo eu, vão-se preparando para sair daí. Já hibernaram o suficiente e agora é a vez das sandálias ocuparem o vosso espaço. Já?, dizem as pretas, com o ar mais aborrecido do mundo. As castanhas entusiasmam-se. Boa, estamos mesmo com vontade de arejar, ver pedras da calçada... E temos saudades dos teus pés, dizem algo timidamente. As pretas voltam a fechar os olhos, viram-se para o lado e resmungam: veste algo a condizer com as castanhas. Nós queremos mais uns dias de descanso. Há botas que têm cá uma lata...

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