22/02/08

chego, largo a mala e faço olhinhos ao sofá. “Por favor, não te sentes, estou aflito”, diz o meu cão. Sim, o meu cão sabe falar. Só comigo, note-se. Pego na chave, volto a fazer olhinhos ao sofá, saio porta fora e aí vamos nós. Na rua, ele passeia-me alegremente. Quer correr, eu não quero, mas não tenho outro remédio. Leva-me pela relva, há pouca luz e quando dou por ela pisei um cocó. “Que merda!”, penso. Penso não, acho que chego mesmo a verbalizar a expressão. Tento ver-me livre daquilo, mas ele continua a levar-me a reboque. Podia tentar aproveitar a força bruta para deslizar, mas é difícil apanhar o jeito. Quando o quatro patas me dá tréguas, desato a esfregar a bota no chão. Um vizinho passa, cumprimenta e eu, a esfregar o pé no chão, sinto-me como aqueles touros quando se preparam para investir. Rio-me para dentro. Voltamos para casa, ele na frente eu sempre atrás, e desta vez é o sofá que me faz olhinhos. “Agora esperas que primeiro vou lavar a bota!”, digo. Ele, o sofá, amua (a minha casa parece um mundo animado, pois é). Ok, amanhã prometo que enfio um saco do Pão de Açúcar em cada pé para evitar estas situações. O sofá aplaude a minha fantástica ideia, mas o cão avisa logo que não me leva à rua nessa figura.

5 comentários:

M disse...

Desperta um sorriso em qq leitor :)

s. disse...

não sabendo se é ficcional ou não uma coisa te posso dizer. esta escrita sobre o dia a dia, quase prosaica é algo que me encanta.

Maria Manuela disse...

Há pessoas que devem pensar que a cidade é só delas.....

epá não custa nada levar um saquinho... mas não.... quem vier atrás que pise a coisa...

Adoro cães e o teu é bicho de sorte...
bjo

redjan disse...

Não daria para ... ser o sofá a levar o cão à rua ? Afinal ambos falam, não seria de desprezar uns momentos onde poderiam trocar ideias sobre a dona !

Chá de Canela disse...

Excelente!
E como eu percebo essa luta de "olhinhos" entre nós e o sofá, quando o nosso cão pede/suplica com o seu olhar o passeio habitual! Com o tempo também já aprendi a contornar a situação dos cocós...eu vou pelo lado de fora da relva, por mais que ele puxe eu não passo a fronteira!:)